Mas o Animal bateu para fora. Boa parte do Maracanã, perplexo, silenciou, e pior, ainda se viu obrigado a assistir a Fiel entrar em transe, comemorando o primeiro título internacional de expressão do Timão. Num quadro que lembrou a invasão de 1976 – sim, lembrou, pois naquela ocasião foi o triplo de gente – os corintianos foram chegando na madrugada de quinta para sexta, pela Ponte-Aérea, em automóveis e em cerca de 250 ônibus.
Como antes, os sem-teto permaneceram fiéis às origens, acampando à beira da praia, embora bem próximos dos mais abastados, que ocuparam os hotéis da orla. Teve fanático dormindo em bagageiro e em canteiro de prédio da Vieira Souto. Na prática, todos se ajeitaram, aqui e ali, para ver a decisão do primeiro Mundial Interclubes da Fifa. E não seria exagero afirmar que o confronto foi basicamente uma partida de xadrez: ritmo lento, movimentos calculados, muita marcação, poucas oportunidades de gol, enfim um respeito mútuo de impressionar.
Se a torcida do Vasco, em maioria, procurava mandar seu time para frente, o que na sua visão era sobretudo obrigação, pois jogava em casa, a do Corinthians entoava continuamente uma espécie de mantra – “ôôô / todo-poderoso Timão / ôôô / todo poderoso Timão” – para marcar a sua permanente presença. A equipe de São Januário teve a sua melhor nos pés de Juninho Pernambucano.
O apoiador tabelou com Romário, recebeu de frente para o gol, sem marcação, e preferiu devolver ao companheiro, surpreendendo o próprio goleiro Dida, que já se preparava para evitar o pior. Os paulistas quase marcaram aos 25 minutos, quando Marcelinho Carioca cobrou escanteio – Hélton, atento e esperto, evitou o gol olímpico. Numa tentativa de resolver, os treinadores promoveram substituições, e no entanto sem efeito prático.
Mas como o 0 a 0 foi até o fim da prorrogação, veio enfim a decisão por pênaltis. Nervos à flor da pele, os protagonistas partem para as cobranças, e no caso dos goleiros, para as possíveis intervenções. Até Luizão fazer 3 a 2 todos acertaram. Gilberto foi o primeiro a perder, chutando à direita, para defesa de Dida. Edu meteu 4 a 2. Viola diminuiu. Marcelinho Carioca bateu e Hélton pegou.
A esperança está nos pés de Edmundo. E ele manda à esquerda, na direção da geral. O Corinthians é o primeiro campeão mundial da Fifa. “Foi a maior decepção da minha vida. E não sei como explicar a falha”, disse um desolado Animal. Do outro lado, um muito emocionado Oswaldo de Oliveira, apenas agradece, sem palavras, o apoio da Fiel e o seu terceiro título no clube – ganhou antes o Paulistão e o Brasileiro.
A manhã de sábado já está raiando e os corintianos ainda estão iniciando o caminho de volta para São Paulo. Cansados, mas com os olhos brilhando de alegria e o sorriso nos lábios. O Corinthians é o primeiro campeão mundial da Fifa.
Fonte: Lancenet
Edição: Jurandir Viana
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