Foto: Bartolomeu Almeida
Juraci Leite, política no sangue
A primeira eleição foi disputada em 1982 pelo PDS e de lá para cá ele nunca perdeu uma eleição. Já foi inclusive presidente da Assembleia Legislativa. Começou no PDS, depois PFL, PTB e agora está filiado ao PSD.
Onde o senhor nasceu ?
Juraci Leite - Nasci em Pedro II,. Lá fiz o primário e vim fazer o ginasial no Colégio Diocesano. Fui interno três anos lá. Depois fui para o ginásio Demóstenes Avelino. Quando voltei novamente para o Diocesano terminei o científico em 1951. Aí fui para o Ceará estudar Odontologia. Terminei o curso em 1955. Tive algumas dificuldades com a morte do meu pai quando eu me preparava para o vestibular e eu não tinha mais condições de continuar estudando, mas o meu padrinho Tertuliano Brandao me assumiu como se filho dele fosse, sendo eu tratado tão bem como os filhos dele. Me sustentou até o último instante. Até meu anel de colação de grau foi dado por ele. Na minha vida feliz, tive este amigo inesquecível. Graças a Deus eu também pude ser útil à família dele, não tanto quanto ele foi a mim, pois ele foi um pai para mim. Serei um amigo constante deles. São dois homens e três mulheres e todos são meus amigos. A esposa dele é minha amiga, temos uma amizade de parente, mesmo não sendo nada de sangue, mas somos amigos, o que é o mais importante.
O senhor está com quantos anos ?
Juraci Leite - Estou com 80 anos.
Como o senhor entrou na política ?
Juraci Leite - Entrei para substituir meu padrinho Tertuliano Solon Brandão, irmão do ex-deputado Milton Brandão, no ano de 1982. É verdade que eu participava de eleições, pois ele era candidato sempre a deputado estadual ou a prefeito. Em Piripiri meu cunhado era candidato a prefeito e eu participava de eleições. Antes, não como candidato e sim como simpatizante e agradecendo os favores que a ele devia.
Então em 1982 entrei como candidato a deputado estadual. Foi minha primeira eleição. Nunca concorri para outro cargo a não ser estudantil quando eu estudava no Ceará.
Como foi a primeira eleição do senhor para deputado ?
Juraci Leite - Na minha primeira eleição fui eleito facilmente. Fiquei em oitavo lugar, entre vinte e sete deputados eleitos. Enfrentei a segunda eleição em 1986, a terceira em 1990, em 1994 a quarta, em 1998 a quinta, em 2002 a sexta, 2006 a sétima e em 2010 a oitava. Estou no oitavo mandato consecutivo. Em 1990 eu tive um pouco de fracasso e uma grande sorte. Na época, o candidato a governador era Freitas Neto. Ele fez muitos contatos, pois havia perdido a eleição em 86 e em 90 ele entrou na disputa com cuidado. Ele fez muitos contatos e naturalmente muitos compromissos e com esses compromissos algumas brechas para que outros entrassem e acabou sacrificando minha candidatura. Eu não tive o sucesso de 82 e 86 e fiquei numa suplência, mas passei apenas dois meses na suplência. Com a eleição de Freitas Neto foram convocados dois deputados para Conselheiros no Tribunal de Contas e então eu fui efetivado. Daí pra frente eu não tive mais nenhum insucesso, graças a Deus.
O senhor pretende disputar mais um mandato de deputado estadual ?
Juraci Leite - Vou continuar disputando enquanto eu tiver oportunidade. Eu trabalho neste sentido. Nunca trabalhei com o sentido de desistir, somente no sentido de continuar.
O senhor preparou algum substituto político na família ?
Juraci Leite - Não, pois vou lhe dizer um negócio interessante. Meu pai dizia que uma família grande tinha que ter somente um rico e só um político. Se tiver um remediado, poderia ser atrapalhado pelo rico ou o rico o atrapalhar, mas político somente um, pois briga de família é normal, mas briga de família quando envolve política é pior do que guerra. Morre é gente. No meu caso, eu tenho filhos, tenho netos, então se eu for oferecer para eles, todos irão querer e eu não posso escolher todos.
E como se dará sua substituição na política ?
Juraci Leite - Tem que ser na sequência. Por exemplo, meu padrinho Tertuliano tinha filhos. Substituição política é tão natural como o nascimento. Não é inventar não. Tem pai que às vezes pega um filho e quer fazer dele politico e ele faz é estragar toda a sua vida politica. Tem que ser um acidente, não adianta forçar.
Qual o segredo de conseguir ser eleito em oito eleições consecutivas ?
Juraci Leite - Primeiro, honrar os compromissos acima de tudo. No meu caso todas as cidades que eu represento eu frequento permanentemente e acompanho todos os seus sofrimentos, mesmo sem contar com o Governo,. Vamos atrás, pois o que pertence ao Estado pertence a todos.
Fale da amizade que existe entre o senhor e o empresário João Claudino ?
Juraci Leite - Existe desde o instante que ele chegou ao Piauí. Ele chegou aqui acidentalmente e fez amizade com o senhor Terto, que era meu compadre. Era padrinho de minha filha. Nós íamos fazer uma viagem e fui à casa de Terto para saber se precisava de algum serviço. Tanto eu como minha mulher somos dentistas. Na época ela atendia as mulheres e as crianças e eu atendia os adultos. Então apareceu uma senhora lá no consultório, na rua Elizeu Martins. Uma loira. Se apresentou como esposa dele. Há quinze dias que haviam chegado em Teresina vindo da Paraíba. Ela disse que estava precisando de um serviço dentário para ela e para os filhos. Chamei minha esposa e disse: veja aí. Neste momento chegou seu João Claudino dizendo que estava também precisando fazer um serviço de dente, mas naquela hora. Eu disse: o senhor está desocupado? Tô. Então vamos. Entramos cinco horas da tarde no consultório e saímos de lá onze horas da noite, deixando todo o serviço feito. O serviço demorou seis horas. Ficamos lá até tarde da noite. Naquele tempo não havia risco algum. Quando ele procurou o valor da conta eu disse: Não rapaz. Eu quero é sua amizade. Ele disse: Olhe. Prepare-se para uma coisa. Nenhum inimigo seu vem para o seu consultório, só vem pra cá seus amigos e se você não cobrar deles você vai quebrar. Ele terminou pagando a conta e daí em diante a amizade continuou. Jogamos buraco juntos sempre na brincadeira, sem nunca envolver dinheiro. Tratamo-nos bem, naturalmente, um ao outro e eu o tenho como um dos meus melhores irmãos.
Fonte: Cabeça de Cuia
Edição: Jurandir Viana
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