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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

CERCA DE 90 MIL BRASILEIROS FORAM AFETADOS POR AVC SOMENTE NOS PRIMEIROS MESES DE 2.011

A cena de Ricardo Gomes, 46 anos, técnico do Vasco da Gama, sendo amparado por paramédicos e deixando o estádio dentro de uma ambulância após passar mal durante o clássico contra o Flamengo, é o resultado de um problema que afetou quase 85 mil pessoas no Brasil somente no 1º semestre de 2011, segundo informações do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Nova droga pode reduzir riscos de AVC em cerca de 20%Triglicérides pode ser mais perigoso que colesterol para AVC, diz estudoFalta de sono pode causar infarto e AVC, diz estudoO acidente vascular cerebral (AVC) é a maior causa para internações e morte no Brasil, segundo a Academia Brasileira de Neurologia. Acontece quando uma área do cérebro deixa de exercer as suas tarefas corretamente por conta de uma alteração no recebimento de sangue.

Quando existe um entupimento nos vasos do cérebro (AVC isquêmico), uma parte do órgão pode deixar de receber sangue. A falta de nutrientes nesse local leva à morte das células. Esse tipo de AVC responde por 80% dos casos.

No caso de Ricardo Gomes, o AVC foi do tipo hemorrágico, ou seja, com vazamento de sangue causado por um rasgo em um dos vasos do cérebro do treinador (veja o infográfico abaixo). Geralmente, a hemorragia pode acontecer tanto em uma região profunda (central) do cérebro ou na periferia.

Este tipo de vazamento representa apenas um quinto dos casos de AVC em geral e a maioria deles acontece na região mais interna do cérebro. Quando ocorrem na periferia do órgão (subaracnoide), 80% são causados por aneurismas -- uma dilatação exagerada das paredes da artéria, o vaso sanguíneo que leva sangue rico em oxigênio às extremidades do corpo.

"A mortalidade mundial por aneurisma é de 42% para os casos de AVC hemorrágico. Se for um AVC por crise hipertensiva, a taxa é de 32%", alerta o especialista Mirto Nelso Prandini, neurologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Pressão no crânio
Com o sangue derramando ao redor da área do vazamento, a pressão dentro do crânio aumenta. Com isso, células do cérebro podem morrer e o coração começa a ter dificuldade para enviar sangue com oxigênio para o local.

"Isso é ruim, pois quanto mais pressão, menos sangue entra nos lugares certos. Há a isquemia (falta de oxigênio) nos tecidos, o coração não tem mais força para bombear mais", explica o médico.

O sangue que vaza forma imediatamente um hematoma. O coágulo formado fora do vaso é uma defesa do corpo para conter o vazamento. “Ele ocorre fora do vaso, é diferente do entupimento dentro do vaso. Com o tempo o organismo pode absorver o coágulo e eliminá-lo”, explica Jamary Oliveira Filho, coordenador do Departamento de Doenças Cerebrovasculares da Academia Brasileira de Neurologia e professor da Universidade Federal da Bahia.

As hemorragias na região temporal (lateral) do cérebro são mais preocupantes quando ocorrem no lado esquerdo, já que existem chances de sequelas na fala e na compreensão. “O paciente passa a não entender o que dizem para ele, existe uma dificuldade de comunicação”, explica Jamary. Caso ocorra no lado direito, pode ocorrer alteração na visão.

"Tempo é cérebro"
Quem sofre um AVC costuma se queixar de dores de cabeça fortes, que chegam de repente. Muitas vezes um dos lados do corpo da pessoa pode ficar paralisado – é comum notar como a boca entorta ou como braços e pernas ficam fracos. Às vezes, o paciente também pode relatar perda de visão ou dificuldade para enxergar.

A partir dos primeiros sintomas, a ajuda médica deve ser buscada imediatamente. “Tempo é cérebro”, diz Jamary. “Se o atendimento for rápido, o indivíduo pode ter uma recuperação rápida, até mesmo sem sequelas.”

Para Félix Pahl, médico do Núcleo de Neurologia e Neurociência do Hospital Sírio-Libanês, a rapidez também vale para as cirurgias, quando necessárias. "O importante é que o tratamento seja o mais precoce possível e, em algumas situações, é preciso operar rápido."

Cuidado com a pressão
Um dos médicos do Vasco, Alexandre Campello, levantou a hipótese do técnico não tomar corretamente os remédios que controlam a pressão arterial. O técnico vascaíno tinha um histórico de problemas no cérebro e chegou a apresentar um problema em 2010, enquanto ainda treinava o São Paulo.

Para Jamary Oliveira, medir a pressão dentro dos vasos sanguíneos é um dos únicos métodos preventivos para o AVC. “O principal cuidado que as pessoas podem ter é fazer consulta regular com o médico para fazer controle arterial”, afirma o médico. “Uma vez por ano já é suficiente para pacientes sem fator de risco e histórico familiar.”

Já Félix destaca algumas características que devem despertar a atenção das pessoas para a possibilidade de AVCs. "Ter mais de 50 anos, ser homem, negro, ter tido um AVC prévio, beber muito álcool, fumar, usar drogas, ter alterações no fígado e não produzir substâncias que coagulam o sangue direito. Todos esses são fatores de risco para esse problema."

Estresse do esporte
A vida como esportista, sujeita a pancadas na cabeça, não é vista pelos especialistas como um agravante no caso de Ricardo Gomes. Mais que os impactos no crânio dos tempos em que foi zagueiro, o estresse vivido como treinador pode ter colaborado para uma crise de hipertensão. Com o aumento da pressão dentro dos vasos sanguíneos, uma ruptura na parede desses "tubos" pode acontecer.

Para que a hipertensão possa causar o rompimento dos vasos, normalmente o paciente precisa ter uma pré-disposição. “Uma opção é durante a gestação, quando os vasos do bebê estão sendo construídos, pode acontecer uma má formação que, no futuro, levará a algum problema”, afirma Mirto Prandini.

O médico acredita que muitos casos de morte no país são causados por AVC, mas explicados por causas diferentes. “Digamos que um rapaz de 28 anos caia no chão e digam que ele morreu após uma parada cardíaca. Muitas vezes um exame necroscópico pode mostrar o rompimento de um aneurisma”, afirma o especialista. "Há muitas subnotificações no caso do acidente vascular cerebral."



Com Informações do G1.COM

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